quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nadja - reloaded (parte 1)

A música das risadas e o tilintar das garrafas em noites mal dormidas combinavam com o esmalte descascado segurando cigarros e copos de cerveja, os saltos que rasgavam o silêncio das calçadas, agora inaudíveis entre o arrastar de cadeiras e a televisão ao fundo. Mais uma noite em busca do que não reconhecia em si mesmo e esta chegava ao fim deixando-o novamente no início.
Entretanto, algo havia mudado, a música diminuiu com a luz e o tempo se expandiu quando ela entrou, não pôde ver seu rosto, algum brilho nos olhos escuros e nos lábios vermelhos o resto, sombra. Flutuava pelo bar parecendo conhecer seus caminhos embora nitidamente não pertencesse ao local. Em outro momento seria divertido para ele ouvir o movimento das cadeiras e dos pescoços naquela direção, mas sua atenção se encontrava nos movimentos sutis dela. Perdido, sua busca terminara.


Tentou levantar e não obteve resposta de suas pernas, lhe traíram, ela encontrou alguém, uma troca de olhares bastou para a devoção eterna, um rabisco em um guardanapo um endereço ou telefone, envolveu-o em seus braços colocando os lábios em seus ouvidos, sussurrando de olhos fechados, abertos agora. Perdido. O toque do garçom as suas costas o trouxe de volta à mesa com o copo de cerveja quente entre seus dedos, avisava que já estavam fechando. De pouco lhe adiantava saber as horas, já era tarde.
Chegou a sua casa, alguma dificuldade de abrir a porta, mais que a usual, deixou o banho para a manhã seguinte e despencou na cama, fechou os olhos, mas continuava a enxergar os que lhe fitavam e assim adormeceu.

Fim de noite difícil e ao acordar perto do meio-dia sentia-se mais cansado que nunca – velho demais – pensou.

“Férias na cidade são complicadas” murmurou, sair para almoçar era sua prioridade mais por costume que pela fome que não sentia. Costumava descer os seis lances de escada que separavam seu apartamento no terceiro andar do térreo, mas não naquele dia, a espera do elevador lhe parecia mais confortável, o espelho devolveu o olhar pálido que lhe lançara “olheiras como essas, ainda bem que estou de férias” murmurou - Os primeiros passos na calçada fora do prédio lhe devolveram o equilíbrio, tudo parecia bem agora. Almoçou como de costume em um restaurante próximo, fechou os olhos por um instante e pode ver o rosto da mulher do dia anterior, sentada em sua janela, pedindo a permissão para entrar que ele insistia em não dar, quase como uma brincadeira.


Sem deixar de sorrir ela cai de costas para a rua, quando pensou em ir à janela uma sirene o trouxe de volta a realidade.

 Os dias seguintes se sucediam rapidamente, voláteis, perturbados. Na sexta feira voltou ao bar para procurar a mulher que povoava seus sonhos com desejos. Duas cervejas depois e já pensava em dormir, quando súbito, o tempo parou, conhecia sensação, seus olhos dirigiram-se para a porta a tempo de ver o vulto de uma garota, não era a mesma, outro cabelo, outras roupas e quando ela voltou-se para seu lado os olhos lhe encontraram; os olhos que não conseguia esquecer e, desta vez, vieram com um sorriso. Tentou caminhar até lá e suas pernas novamente lhe abandonaram, não era preciso, ela vinha na sua direção. Desviou os olhos na medida do possível, não era. 


Quanto mais próxima mais lentamente o tempo passava, chegou perto de seu ouvido e murmurou “tudo que tens que fazer é me convidar para entrar...” novamente seu mundo entrou em colapso e o copo de cerveja quente o acordou ao tocar em seus lábios. Ainda não era madrugada, o bar estava em funcionamento normal, cheio. Procurou por todos os lados, mas já fora embora, provavelmente acompanhada. “Que ela quis dizer com aquilo?” pensou. Resolveu caminhar até em casa procurando entender o que acontecera, o movimento das ruas estava normal, alguns bêbados, alguma correria, carros, motos, luz, muita luz. E a voz que não saía de sua cabeça parecia ficar cada vez mais clara. “Não fazia sentido, para que convida-la? Por que precisaria de convite e porque eu não convidaria?” perguntava-se. Chegou em casa a pé, pegou o elevador e dirigiu-se ate seu apartamento. Entrou e abriu as janelas, precisava ar puro. Sentou em uma cadeira na sacada, fechou os olhos e pensou em adormecer quando um calafrio percorreu sua espinha quando lembrou uma conversa de anos antes e voltou correndo para dentro de sua casa, parecia mais seguro lá. Um amigo lhe dissera certa vez “se procura passarinhos deve procurar de dia, à noite só andam os morcegos, nunca convide alguém que você só encontre a noite para entrar em sua casa, eles estão por aí”. 





3 comentários:

  1. adoro essa ambientação.
    e já disse... eu sou estúpida e demorei milênios pra me dar conta. o máximo que posso comentar é "i've lost my fangs..."

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  2. SHOW! A melhor versão, hehe! As imagens tão uma obraaaaaaaaaa!!! :O)

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  3. Estamos à espreita...
    Essa história toda me lembra a Michelle fugindo do Do Jack "Lobisomen"...
    E querendo ser pega...
    "Eles estão por aí"...
    Continuando na escuta,
    G.

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