segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Jonas

A música eletrônica soava alta em seus ouvidos e os corpos suados se contorciam a sua volta, ele dançava freneticamente buscando desligar seu cérebro e com ele as vozes que lhe enlouqueciam. Estava com sede novamente mas comprar água no bar era contra seus princípios e principalmente contra seu bolso.

Jonas cambaleou até o banheiro tentando lembrar o que acontecia, havia tomado a quinta bala da noite e precisava molhar a cabeça e beber água, sua temperatura estava elevada. A batida da música foi substituída por David Bowie no banheiro, Paper Boy. O extasy o levava longe, ajudava a ver coisas que os outros não viam, mas David Bowie era demais para ele. Abriu a torneira, observou sua imagem no espelho, baixou o rosto para beber usando a mão em concha e sentiu um arrepio na nuca que percorreu todo seu corpo.


Subiu a cabeça lentamente para o espelho que muitas vezes já lhe trouxe imagens do outro lado. Nada.

Escuta uns resmungos chorosos e busca de onde provem o som, caminha pelo banheiro até o fim do corredor e chega à origem.

“Ei, tudo bem aí?” pergunta ele.

“....”

“tudo bem?”

“Você está falando comigo?”

“errr, sim.”

“Porque você está falando comigo?”

“Você estava chorando, vim ver se estava bem”

“eu não estava chorando”

“Estava”

“Não estava”

“Bem...”

“Você sabe com quem esta falando?”

“Não, alias meu nome é Lucas, e o seu?”

“Claro que seu nome é Lucas, pode me chamar de Gabriel”

“Que aconteceu então, quer falar?”

“Falar? Você acha que é isto que estamos fazendo?”

“Bem, sim.”

“Se você diz.”

“ok, mas por que está, consternado?”

“Eu fiz coisas ruins”

“Bom, más como?”

“RUINS E NÂO MÁS!!!, Há uma diferença!!”

“Não estou julgando, Não estou julgando!” Exclamou Jonas preocupado com o rumo que a conversa tomava, não iria mais usar aquela merda. “porque comigo, sempre comigo” pensava.

“Está bem, eu fiz coisas que me pediram para fazer, coisas ruins, difíceis.”

“Você... machucou pessoas?” Disse Jonas lentamente se deslocando para a porta.

“Me pediram para fazer essas coisas”/

“Mas quem pediu?”

“Deus”

“Hmm, você sabem o que dizem né, se você fala com Deus, você está rezando, se Ele fala com você, você é esquizofrênico.” Sorriu com a própria graça.

“Você realmente está viajando né?

“Que tem a ver uma coisa com outra?”

“Nada Jonas, nada. Vá embora me deixe pensar. E, um conselho, saia deste bar e não olhe para trás, tenho uma missão a cumprir.”

“...”

Os resmungos recomeçaram e Jonas não satisfeito com o rumo da conversa resolveu espiar pela fresta do compartimento para saber o tamanho do problema que se avizinhava, se precisava chamar a polícia ou não seria necessário.




(Continua)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ressurreição




A escuridão se tornara convidativa, acolhedora, quase maternal. Lucas, sentado em frente à escuridão, apenas observava e se deixava escorregar em sua direção, fecha os olhos calmamente, está em paz.

Violentamente foi agarrado pelos ombros e arrastado para trás; gritando, desperta. As dores que lhe acometiam naquele instante criavam-lhe a sensação de rios de lava correndo por suas artérias e sob sua pele, seu coração tentava pular pela boca sem ritmo, procurou se mover e percebeu estar amarrado fortemente a sua cama, os pés juntos e os braços estendidos abertos para os lados. Tentou abrir os olhos, mas estavam vendados, ao forçar os braços para escapar foi agarrado nos dois lados, gritou, mas sua voz não saiu, apenas um grunhido rouco irreconhecível, a dor acalmou por alguns instantes apenas para começar novamente.

"Você está a salvo, sei que a dor parece insuportável, mas é sua única chance de sobreviver”.

 

 Sua resposta foi apenas mais um grunhido seguido de um urro de dor. Suas lágrimas ardem ao deslizar por sua pele, grossas e pesadas. Ao virar o rosto uma corre para sua boca, o gosto acre não deixa dúvidas do que escorre por seus olhos.

 

"Aguente firme, Lucas. Meu nome é Peter Vincent e este é William Van Der Gessiger, você está bem assessorado para ajudá-lo no que está por vir.” Falou calmamente Peter.

 

"E o que está por vir?" sussurrou Lucas.

 

"Infelizmente você não vai gostar" falou resignado William. "Temos que minimizar os efeitos colaterais do que aconteceu com você, lembra de alguma coisa?"

 

"Ela" no instante seguinte um gosto acre e rançoso de sangue espirra de sua boca em um jato que lhe deixaria enjoado se as dores, agora no seu estômago, não irrompessem furiosamente. "Quão mal eu estou?" balbucia.


 

"Sabe quando você se machucava e sua mãe dizia que poderia ser pior? Era a isso que ela se referia."

 

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Nota do autor

Para facilitar a compreensão, na coluna da direita aparecem os capítulos em ordem cronológica, seguindo as duas épocas que se desenrola a história (até agora), "then" são capítulos que aconteceram a partir da década de 80, e "now" são as que ocorrem a medida que são lidas. Abaixo existe também uma coluna com os nomes dos personagens e os capítulos em que aparecem na ordem que a história é contada, em seguida retratos dos personagens para dar uma cara aos nomes e lá embaixo a história na ordem que está sendo contada. 
Era isso e bom proveito!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tentação


William acorda sobressaltado puxando de baixo do travesseiro a famosa Colt peacemaker que lhe acompanha a todos os lugares, inclusive ao banheiro após o pequeno incidente que lhe acometera anos antes provocando um enfrentamento de mãos limpas e completamente nu com uma criatura das trevas, não é uma lembrança que lhe agrade e nem uma história para contar, não se orgulha de como teve que resolver aquela situação. Em segundos entendeu que seu telefone celular acusava por vibração a chegada de uma missiva eletrônica, o que provocou sua curiosidade, poucos possuíam aquele número e realmente muito poucos teriam coragem de utilizá-lo. Antes de pegar o aparelho, correu os olhos pelo quarto procurando alguma falha nas barreiras de sal que bloqueavam as aberturas de seu aposento, a pequena janela voltada para o leste – quanto antes o sol alcançá-lo melhor – e a porta ao sul – sempre dormia com a cabeça para o norte e jamais de costas para a porta, o que dificultava um pouco seu pernoite em outros aposentos, por algum motivo incompreensível para ele, os quartos não são todos construídos desta maneira – constatando que as linhas de sal continuavam intactas, “mais uma noite, mais uma dádiva” disse ele seguindo seu ritual matinal e toma o telefone nas mãos. Passa rapidamente os olhos pela mensagem e motivado pela urgência do fato apresentado em poucos minutos já está com a mochila com os instrumentos necessários para a tarefa que lhe foi designada, montado em sua bicicleta e pedalando furiosamente para o endereço que recebera na mensagem.


“Ela novamente, mais uma vítima da maldita Nadja, linda e maldita, tem prazer em provocar as transmutações e me deixar saber, sou obrigado a por fim as suas existências miseráveis e malditas, mas um dia encontrarei Nadja novamente e será o fim para um de nós”.

Chegou rapidamente ao apartamento, chutou a porta e rolou para dentro apoiando-se ao solo com o joelho esquerdo e o pé direito, segurava a Colt com a mão destra calçada sobre o pulso da sinistra que empunhava sua adaga, de maneira invertida. Sua preferência, apesar da ambidestria, era usar a adaga na canhota, onde provocava mais estragos, acreditava por vezes que tinha menos escrúpulos com aquela mão.

Perscrutou rapidamente o ambiente avaliando a situação, os recém transformados não sabiam de suas capacidades, mas ainda assim eram bastante destrutivos, todo cuidado era pouco, entretanto os gemidos que ouvia não condiziam com um recém transformado, “cheguei cedo demais?” e dirigiu-se a proveniência dos sons encontrando um homem se contorcendo na banheira, sem desviar os olhos investigou rapidamente o banheiro até encontrar as palavras no espelho e em sequência o bilhete que ela deixara.


Atônito procurou recapitular a situação, “ela o mordeu e o largou vivo na banheira, o gelo deve retardar o processo, não passou seu sangue para ele, está no vidro, lhe deu uma opção, mas como ele ainda está vivo? Tem sangue em seus lábios, provavelmente o suficiente para mantê-lo até eu chegar, mas e agora? Devo matá-lo? Cortar sua cabeça?” foi tirado de seu devaneio pelas palavras do homem. “Me ajude” e começou a convulsionar na banheira. William pegou seu telefone e ligou para o número da única pessoa disponível com conhecimento suficiente para lhe ajudar, Ozzy estava ocupado demais com Bill (Gates).

“Peter Vincent, Vampire Slayer, ao seu dispor” disse a voz ao telefone.


“Peter, William”

“Ah, diga.”

“Encontrei uma vítima sugada, viva e não transmutada, aparentemente com uma pequena dose de sangue em seus lábios”.

“Banheira de gelo?”

“Sim”

“Por que eles fazem isto? Por que não definem a situação? Não podes imaginar a dor que ele deve estar sentindo, ou melhor, claro que pode. Ele está acordado? Bom, estou ouvindo os gritos, você tem epinefrina, claro, misture com a solução de alho e a água benta.”

“Água benta? Mas não tem utilidade!”

“Ah, claro, você já sabe disto, dilua com água então, e reze. Bom, não precisa rezar, só espere umas duas horas, se ele sobreviver, leve-o para casa, precisará ensiná-lo algumas coisas, mas isto é um passo posterior. Aplique a injeção que não agüento mais estes gritos!”

“Obrigado Peter”.

“Peter Vincent,Vampire Sayer, desligando”.

William preparou rapidamente a injeção e em instantes o rapaz parou de se debater, cansado, antes de  desfalecer, ainda disse algumas palavras que William entendeu como o próprio nome e de seu algoz.

“Nadja, Lucas” e caiu em sono profundo.


 

 

 

terça-feira, 5 de maio de 2009

Martírio

Ouço um som compassado lembrando o de um velho trem passando pelos dormentes, entretanto não existem trens por perto, ao menos não na minha memória. Um cheiro acre penetra em minhas narinas e minha pele toda parece estar em brasas. Minhas pálpebras pesadas insistem fechadas, a garganta seca me impede de engolir, os músculos dormentes, frio. Tento mover os dedos, água. O som continua, lembrando um gigantesco catavento agora acompanhado por outro também ritmado, retumbante, pancadas. Novamente forço meus olhos e uma profusão de cores e luzes os obriga a fechar novamente. Perco a consciência.


Não sei quanto tempo permaneci desacordado, mas agora consigo abrir os olhos, ouço o ventilador de teto do quarto ao lado girar devagar, aos meus pés gotas delicadamente se desprendem do chuveiro mal fechado retumbando na água da banheira. Ouço meu coração se esforçando para bombear o que resta de meu sangue através de meu corpo. Ainda não consigo me movimentar, mas vejo as barras de gelo na água ensaguentada a minha volta, a confusão do momento não me impede de perceber que algo está errado, tento lembrar o que aconteceu, como fui parar naquela banheira quando olho para o lado e vejo no espelho escrito com batom:

“Não saia da banheira”

“Leia o bilhete”


Volto os olhos à banqueta ao meu lado e encontro um telefone celular, uma prancheta de acrílico com um bilhete preso a ela e uma caixinha metálica com aparência antiga. Tomo a prancheta em minhas mãos e leio o seguinte bilhete.

“Surpreendente, não imaginei que você pudesse sobreviver, mas é impressionante como a vida sempre encontra um meio, um caminho. Como está lendo este bilhete terá a opção que poucas vezes eu dei, não deve lembrar de muita coisa agora, mas precisa entender que sua vida dependerá da decisão que irá tomar nos próximos minutos. As dores em breve irão começar embotando seus sentidos e sua capacidade de tomar decisões, para mim pouco importa, mas suas últimas palavras me fizeram pensar então resolvi lhe dar o que pode se chamar de uma chance. No celular está pronta a mensagem com seu endereço e o que aconteceu com você, a pessoa certa receberá. Só ela poderá salvar aquilo que você chama de vida, e na caixinha, seu passaporte para a escuridão. Creio que imagens do que aconteceu estão se formando em sua mente, não espere lamentos ou arrependimentos de minha parte, não faz parte da minha natureza. Achei divertido, assim como acharei divertido encontrá-lo novamente, independente do lado das trevas que você estiver. Nos meus cálculos você tem algo em torno de dois minutos para decidir entre o telefone e a caixinha, depois deste tempo você ira agonizar até a morte, não é uma boa morte, eu teria uma melhor para você, mas como eu disse, assim é mais divertido. A propósito, no espelho, não é batom.”


Finalmente as imagens da noite anterior me acometem freneticamente acompanhadas de delírios, a linda mulher, o vinho, sangue ou vinho, ela sobre mim, mais sangue, meu pedido, últimas palavras, quem sou, quem é você, ela me carregando praticamente desacordado para a banheira cheia de água, a água perdendo a transparência, ela escrevendo no espelho, colocando o dedo na boca e me olhando por sobre o ombro, um sorriso cínico, vem na minha direção, um beijo nos lábios, o gosto acre, fecha meus olhos com as pontas dos dedos, um dor lancinante corta minhas costas, preciso decidir, abro a caixa, um frasco, liquido vermelho, denso, deixo de lado, o celular, não consigo ler a mensagem, enviar, aparece um nome. William.


sábado, 18 de abril de 2009

William - origins - parte 1

20 de janeiro de 1982

O vento frio queimava meu rosto e esvoaçava meus cabelos, a sensação de liberdade dos anos 60 de Easy Rider em plenos 80, quando subo em minha Chopper consigo esquecer essa porra de New Wave com suas ombreiras cor de rosa e mullets e tudo com cheiro de maça verde, mas a liberdade durou pouco, o sol em vão tentava me aquecer, mas a tempestade me consumia. O tempo, como sempre, contra nós. Bobby e eu percorríamos a estrada há algum tempo já, seguíamos as criaturas há semanas sem sucesso, entretanto, finalmente entendêramos seu padrão. Por algum estranho motivo elas também odiavam New Wave e buscavam sempre por concertos de rock, haveria um em Des Moines, Iowa, hoje à noite. “Diary of a mad man”, Ozzy Osborne ressurgindo.
Por incrível que pareça não permitiam entrar em shows de rock com o equipamento necessário, Bobby e eu fomos de mãos limpas ao show, lotado como de costume. Entramos por portas diferentes do ginásio para tentar localizar as criaturas da noite. O som alto confundia meus sentidos e perturbava minha mente, eu sempre pude pressentir essas malditas criaturas, mas naquele momento não conseguira e isso me irritava. Em meio ao espetáculo, Ozzy aparentava confusão, trocava as letras confundia as palavras, provavelmente inebriado pelo álcool e excessos que o caracterizavam, uma pena considerando o grande vocalista do Black Sabath que já fora. Eis que observo, em sua forma quiróptera, a criatura voando em direção ao palco. A multidão delira enquanto, em vão, tento gritar para Ozzy alertando-o do perigo que corria. Nenhuma reação. Começo a gesticular com os braços sendo seguido por milhares de devotos de Ozzy, Já em desespero e como último recurso, fecho o punho esquerdo e, mantendo presos com o polegar os dedos médio e anular, liberei o indicador e o mínimo deixando-os em riste,
simulando tanto as orelhas como as presas da criatura que o atacava. 

Qual não foi minha surpresa ao ver que fui seguido por milhares de devotos de Ozzy - gesto que até os dias de hoje é repetido a exaustão em concertos do tipo, por certo tendo perdido seu sentido original - e maior foi minha surpresa quando ele, em meio da multidão, me localizou e olhou em meus olhos com agradecimento compartilhando um momento que me enternece até os dias de hoje, eis que ele movimentando-se rapidamente desvencilha-se do ataque da criatura que cai aos seus pés, e com as duas mãos pega a criatura e a leva à boca tomando-lhe a cabeça pondo fim a sua existência maldita. 

(continua)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Nadja - parte 5

previously on tears of blood...

A noite o encontrou em casa devaneando entre o sono e a vigília, sobressaltado, percebe dois copos de vinho servidos à mesa. E no sofá a sua frente, ela.

“Estava me procurando?” Disse, levando um dos copos à boca.

Lucas, assustado, tentou levantar e foi traído por suas pernas, como na primeira vez que a viu. Sentia-se tonto e fraco, não lembrava como havia chegado a seu apartamento. Lembrou de Paulo, de comprar o vinho que agora estava depositado nas taças a sua frente, o resto estava obscurecido pelo entorpecimento que tomava seu corpo. Então, pela primeira vez olhou para ela percebendo o tom alvo de sua pele contrastando com os cabelos e olhos negros. 


O sorriso sensual de Nadja o perturbava,

“Achei que não acordaria mais, já tomei duas taças do seu vinho.”

 “Meu vinho? Sim, comprei vinho.”

 “Você deve ter muitas perguntas, Lucas.”

“Perguntas, sim, creio que sim.” Lucas apresentava dificuldades para pensar, se achava inebriado pela presença da morena. Não entendia o seu sorriso, era mais que sensual, era quase irônico.

 “Por que você sorri assim?” Apenas um sorriso como resposta enquanto levava mais uma vez o copo aos lábios. Ele então toma seu copo nas mãos e sorve um longo gole de vinho. Sua mão treme um pouco, continua tonto, ela sorri.

“Algum problema?”

“Estou tonto.”

 “Estranho.” Falou Nadja, com um sorriso delicioso nos lábios. Lucas suava frio, passou a mão no rosto e na testa para secar o suor que lhe incomodava. Ela sorri novamente e toma um longo gole de seu copo, uma gota sobra em seus lábios que ela captura com a língua deixando aparecer o canino levemente maior que o normal. 


Naquele instante seus olhos percorrem rapidamente dos lábios ao dente ao copo e a gota em sua língua, muito densa, compreendeu e colocou a mão no pescoço. Ele trouxe a mão úmida aos olhos, sangue.

“Muito bom mesmo o seu vinho.”

“Eu vou morrer? Você vai me matar?”

“Vai começar o drama? Você sabia do que se tratava e me chamou aqui.”

“Não quero morrer”

“Mas quer vir comigo, certo? Quer uma nova vida sem deixar a anterior de lado, vocês são interessantes”.

“Me transforma em um de vocês?”

“Porque eu faria isso? Seu vinho não é tão bom assim.”

Lucas tenta levantar, mas a tontura o leva a perder os sentidos e cair sobre a mesa a sua frente. Nadja sorri e se debruça sobre o pescoço de Lucas repetindo o que fizera antes.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Nadja parte 4

O amanhecer demorou a chegar, as palavras eram poucas, a amizade de anos era o que lhes bastava agora. “Café?” “Sim, por favor.” “Açúcar?” “Claro que não.” “Tu sabe como vampiro faz chá?” E Lucas caiu na gargalhada, Paulo tentava aquela piada há anos sem sucesso e agora lhe arrancara risadas convulsivas. O contraste entre a caneca com seis colheres de açúcar e o puro de Lucas refletia também nos seus semblantes, Paulo, sempre o lacônico, agora fazia graça para aliviar a situação enquanto Lucas trazia tempestades em seus olhos, destoando do homem que brincava com a fratura em suas costelas ano passado. “Não sei o que pensar, não quero te meter em problemas.” “Os ruídos de ontem a noite, acho que não te diziam respeito.” “Como assim?” “Todos temos fantasmas.” Foi a resposta de Paulo assumindo a expressão taciturna que o caracterizava, trazendo um pouco de alívio ao amigo que já estava ficando consternado com as atitudes de Paulo. “De qualquer forma, preciso ir. Obrigado pela noite tranqüila.” Falou Lucas com um sorriso.

Seus sentidos estavam à flor da pele, sentia o perfume de tudo a sua volta, o pão da esquina, gasolina, flores que invariavelmente tornavam seus pensamentos a ela, o aperto no estomago e o turbilhão de vozes desconexas rodava em sua cabeça, seguiam consigo. “Preciso falar com ela, hoje.” Pensava, enquanto deixava de lado o prato de comida que insistia em tentar, passou no supermercado para comprar vinho, imaginou ser estranhamente adequado à situação.

A noite o encontrou em casa devaneando entre o sono e a vigília, sobressaltado, percebe dois copos de vinho servidos à mesa. E no sofá a sua frente, ela.

“Estava me procurando?” Disse, levando um dos copos à boca.


quarta-feira, 4 de março de 2009

Nadja reloaded (parte 3)

O telefonema o deixou apreensivo, algum tempo que não falava com o amigo, entretanto poderiam ter se passado anos e ainda assim perceberia a aflição e ansiedade naquela voz.

"O que poderia ter lhe deixado assim? Uma mulher? De novo?" pensava Paulo. Paulo - o amigo de todas as horas - ouviu atentamente o que lhe era contato sem duvidar de nada, mas procurando não demonstrar a preocupação que lhe afligia. Entretanto, essa era difícil de esconder. Já ouvira o amigo falar assim antes, em outros tempos, entre o medo e a curiosidade e isso não lhe agradava. Preferia-o realmente assustado, essa curiosidade realmente o preocupava.

Saíram para um café, falar dos velhos tempos de faculdade e tudo mais. “Bons tempos”, pensava Paulo, “sem vampiros”. A noite se aproximava e ele pretendia manter o amigo consigo, pelo menos por algumas horas. Convidou-o para dormir em sua casa e Lucas aceitou prontamente para aumentar a estranheza do amigo.

“É grave”, pensou.

Noite, caminham de volta para a casa de Paulo, “nada estranho até agora” pensava. Seu apartamento de um quarto, no meio do prédio, não tinha janelas para a rua nem sacadas, a janela do quarto era voltada às paredes internas do prédio, mas ele não tinha certeza que a vampira não teria como entrar, não estava tão seguro, pois suas certezas rapidamente o abandonavam, em primeiro lugar, não acreditava em vampiros e, em segundo lugar, se acreditasse, eles não poderiam entrar em sua casa sem serem convidados. Pensou em perguntar ao amigo se o alho continuava funcionando sem saber se era uma brincadeira de mau gosto ou uma preocupação real. Paulo procurava disfarçar a apreensão, entretanto, essa fora percebida pelo amigo. “Eu sei o que vi” disse ele. “Sei que mais cedo ou mais tarde ela vai voltar, e não sei se estou com medo ou esperando por isso”.

À noite, após algumas cervejas, Lucas montou seu colchão no quarto de Paulo e caiu no sono, sentiu-se seguro pela primeira vez em dias. Entretanto, acordou receoso durante a noite, ouvira um ruído estranho vindo das paredes, tentou negar e desconsiderar o ruído culpando as cervejas por ele. Esboçou um sorriso para si quando aquilo que menos esperava aconteceu. “Que barulho é esse cara?” sussurrou Paulo. Levantaram imediatamente buscando a origem do som colando os ouvidos as paredes. Ao som cada vez mais próximo de paredes arranhadas se somou o ruído de uma respiração, parecia imediatamente ao lado de fora do prédio, Paulo arriscou olhar pela janela sem poder ver nada, estava abrindo o vidro quando Lucas segurou sua mão sem dizer nada, olhou-o nos olhos e este julgou melhor deixar a janela assim, por longos minutos ouviram os ruídos que começaram a se afastar. “Vampiros respiram?” perguntou Lucas. 

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Nadja Reloaded ( parte 2)

Era isso que martelava sua mente desde que a mulher lhe pediu o convite, sabia que este martelar significava alguma coisa embora não acreditasse em metáforas. E agora lá estava ele parado no marco da porta de sua sacada sem coragem de sair para apagar a luz. 

“Três passos para ir e três para voltar, não mais que isso. E não deve ser tão ruim assim ser atacado por uma mulher daquelas” pensava sorrindo com falso desdém. A luz está cara para deixar uma lâmpada ligada a noite toda. Sentia-se ridículo olhando ao redor, além do mais ele se perguntava se existia tal criatura que a um convite a impedisse de entrar na casa. O primeiro passo para a rua foi seguido de um calafrio maior que o de antes, o que o fez recuar de súbito.

 “De manhã apago” pensou, “sempre falei que tinha bons instintos, é hora de provar que acredito neles” fechou as janelas e deixou um bilhete para si mesmo lembrando de apagar a luz antes de sair para não mais passar por essa situação ridícula na noite seguinte. Repousou a cabeça no travesseiro de costas para as janelas, em poucos segundos resolveu virar para a janela, achava desde criança mais seguro se olhasse para as portas do que ficando de costas. “Chega de beber” foi à última coisa que passou pela sua cabeça antes dos sonhos de sempre tomarem seu lugar.


 Acordou suado, com o lençol enrolado em seu pescoço talvez em uma forma esdrúxula de protegê-lo do que estaria por vir. “Vampiros”, pensou com um sorriso, “é incrível como de dia os medos da noite se esvaem e parecem ridículos” abriu a janela para desligar a luz e a encontrou apagada, foi até o interruptor ainda pensando que aquela teria queimado e acionou o interruptor, não estava.

O dia seguinte, turvo, sonho, vultos, luz demais. Só à noite lhe importava. Ao anoitecer já caminhava pela rua deserta, o bar, fechado, vagou por algum tempo, sem certeza do que pretendia. “Nadja”, um sussurro quase dentro de sua cabeça. Virou-se de súbito e as ruas, vazias. Tornou a virar e observou um vulto desaparecendo na esquina, um vulto familiar, familiar como o frio que lhe percorreu as costas. Ela agora possuía um nome. Ele, cada vez menos.


 Voltou para casa cedo, um banho para relaxar, o espelho lhe mostrou pálido e cansado, o chuveiro quente e as noites frias não estavam ajudando. Na sacada, a luz acesa. Respirou fundo, “três passos”, pensou. “Agora ou nunca” e dirigiu-se ao interruptor, apagou a luz e antes de virar já sabia o que lhe esperava. Virou-se em direção ao quarto, Nadja. Ela sorria. Sentimentos e sensações passavam por sua cabeça, medo, dor, angústia, culpa, mas o que mais lhe estranhava era seu sentimento de alívio. Alívio pelo inevitável, o encontro inevitável. Estranhamente, sem dizer palavra, ela deu um passo para o lado e ele jogou-se para o quarto – “não a convidei” – pensou. Ainda sorrindo ela fitando seus olhos e, sem palavras, pede para ser convidada. Ante a hesitação dele, Nadja ainda sorrindo anda dois passos para dentro do quarto. Um turbilhão toma seu corpo e o arremessa para seu sonho.


 A voz suave, sussurro, “você achou que teria força suficiente para me manter fora do quarto? Não basta não me convidar, você precisa não querer que eu entre”.

Suava ao acordar, tateou seu pescoço, examinou tudo que pôde do seu corpo estranhamente dolorido, como se tivesse tido uma noite difícil, “uma noite difícil, sim, foi isso”. Tentou levantar e suas pernas não lhe obedeciam, uma onda de desespero tomou-lhe de súbito, imagens formavam-se atrás de seus olhos, o sal em seus lábios remetia as horas sem lembrança da noite anterior. “Ela precisava ser convidada, isto não está certo” repetia ele consigo mesmo. Por fim conseguiu levantar-se se dirigindo ao banheiro, espelho, “estarei lívido? Um morto-vivo?” a mesma pessoa que dia após dia lhe espiava do outro lado do espelho ainda estava lá, incólume.
Perto do meio-dia resolveu que deveria enfrentar as horas de luz que ainda lhe restavam, não sabia mais quem era, o quanto estava perturbado. Sabia que agora carregava um fardo, realidade ou delírio, não sabia o que era pior, esquizofrenia ou vampiros. Desejava não estar louco, entretanto para aceitar isso uma vampira lhe visitaria todas as noites.


“Sonho, um sonho muito real, mas um sonho. Acontece toda hora, pessoas sonham, acreditam que tem visões, mas apenas sonham.” Fome, de comida, de certa forma isso o tranqüilizava, não sentia aversão ao bife com fritas ou a salada de tomates que almoçava, a carne bem passada de sempre ainda o agradava, a imagem do sangue gotejando do bife não lhe atraía, ainda não era um vampiro. De qualquer forma precisava contar para alguém, ao menos tinha uma boa história.





quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nadja - reloaded (parte 1)

A música das risadas e o tilintar das garrafas em noites mal dormidas combinavam com o esmalte descascado segurando cigarros e copos de cerveja, os saltos que rasgavam o silêncio das calçadas, agora inaudíveis entre o arrastar de cadeiras e a televisão ao fundo. Mais uma noite em busca do que não reconhecia em si mesmo e esta chegava ao fim deixando-o novamente no início.
Entretanto, algo havia mudado, a música diminuiu com a luz e o tempo se expandiu quando ela entrou, não pôde ver seu rosto, algum brilho nos olhos escuros e nos lábios vermelhos o resto, sombra. Flutuava pelo bar parecendo conhecer seus caminhos embora nitidamente não pertencesse ao local. Em outro momento seria divertido para ele ouvir o movimento das cadeiras e dos pescoços naquela direção, mas sua atenção se encontrava nos movimentos sutis dela. Perdido, sua busca terminara.


Tentou levantar e não obteve resposta de suas pernas, lhe traíram, ela encontrou alguém, uma troca de olhares bastou para a devoção eterna, um rabisco em um guardanapo um endereço ou telefone, envolveu-o em seus braços colocando os lábios em seus ouvidos, sussurrando de olhos fechados, abertos agora. Perdido. O toque do garçom as suas costas o trouxe de volta à mesa com o copo de cerveja quente entre seus dedos, avisava que já estavam fechando. De pouco lhe adiantava saber as horas, já era tarde.
Chegou a sua casa, alguma dificuldade de abrir a porta, mais que a usual, deixou o banho para a manhã seguinte e despencou na cama, fechou os olhos, mas continuava a enxergar os que lhe fitavam e assim adormeceu.

Fim de noite difícil e ao acordar perto do meio-dia sentia-se mais cansado que nunca – velho demais – pensou.

“Férias na cidade são complicadas” murmurou, sair para almoçar era sua prioridade mais por costume que pela fome que não sentia. Costumava descer os seis lances de escada que separavam seu apartamento no terceiro andar do térreo, mas não naquele dia, a espera do elevador lhe parecia mais confortável, o espelho devolveu o olhar pálido que lhe lançara “olheiras como essas, ainda bem que estou de férias” murmurou - Os primeiros passos na calçada fora do prédio lhe devolveram o equilíbrio, tudo parecia bem agora. Almoçou como de costume em um restaurante próximo, fechou os olhos por um instante e pode ver o rosto da mulher do dia anterior, sentada em sua janela, pedindo a permissão para entrar que ele insistia em não dar, quase como uma brincadeira.


Sem deixar de sorrir ela cai de costas para a rua, quando pensou em ir à janela uma sirene o trouxe de volta a realidade.

 Os dias seguintes se sucediam rapidamente, voláteis, perturbados. Na sexta feira voltou ao bar para procurar a mulher que povoava seus sonhos com desejos. Duas cervejas depois e já pensava em dormir, quando súbito, o tempo parou, conhecia sensação, seus olhos dirigiram-se para a porta a tempo de ver o vulto de uma garota, não era a mesma, outro cabelo, outras roupas e quando ela voltou-se para seu lado os olhos lhe encontraram; os olhos que não conseguia esquecer e, desta vez, vieram com um sorriso. Tentou caminhar até lá e suas pernas novamente lhe abandonaram, não era preciso, ela vinha na sua direção. Desviou os olhos na medida do possível, não era. 


Quanto mais próxima mais lentamente o tempo passava, chegou perto de seu ouvido e murmurou “tudo que tens que fazer é me convidar para entrar...” novamente seu mundo entrou em colapso e o copo de cerveja quente o acordou ao tocar em seus lábios. Ainda não era madrugada, o bar estava em funcionamento normal, cheio. Procurou por todos os lados, mas já fora embora, provavelmente acompanhada. “Que ela quis dizer com aquilo?” pensou. Resolveu caminhar até em casa procurando entender o que acontecera, o movimento das ruas estava normal, alguns bêbados, alguma correria, carros, motos, luz, muita luz. E a voz que não saía de sua cabeça parecia ficar cada vez mais clara. “Não fazia sentido, para que convida-la? Por que precisaria de convite e porque eu não convidaria?” perguntava-se. Chegou em casa a pé, pegou o elevador e dirigiu-se ate seu apartamento. Entrou e abriu as janelas, precisava ar puro. Sentou em uma cadeira na sacada, fechou os olhos e pensou em adormecer quando um calafrio percorreu sua espinha quando lembrou uma conversa de anos antes e voltou correndo para dentro de sua casa, parecia mais seguro lá. Um amigo lhe dissera certa vez “se procura passarinhos deve procurar de dia, à noite só andam os morcegos, nunca convide alguém que você só encontre a noite para entrar em sua casa, eles estão por aí”. 





segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

William

BRRRRRRRRRRR  BRRRRRRRRRRRRRRRRR BRRRRRRRRRRRRR

 

- Ann Alô?

­− ....

− Alo??

− Onde está Jacob?

− Quem está falando?

− Onde ele está?

− Ele ... sofreu um acidente.

− quem é você?

− Dorothy, e você?


− William. O que aconteceu?

− Você não acreditaria

− Minha filha, você não faz idéia das coisas que eu acreditaria.

− Ele parecia estar caçando, então, aquela coisa veio para cima dele e...

− Você viu o Licântropo?

− Não, o que eu vi era um lobisomem mesmo.

− Hmm, bem, você o viu então? E ele viu você?

− Sim né, ficou me encarando e fungando e depois foi embora.

− Ele não matou você?

− Errr, Não?

− Estranho, deveria ter matado você.

− Estranho né? Não ter me matado, quer dizer, um lobisomem arranca a cabeça de alguém e isso é normal, não ter me matado é que é estranho. Escuta senhor, vou desligar, só peguei o carro dele porque achei que não precisaria mais mas se o senhor quiser eu largo em algum lugar...

− Você está com o carro de um caçador??

− Estou?

− Viva??

− Vem cá, que você tem contra eu ficar viva??

− Calma mocinha, você deve vir até mim que eu explico tudo.

− Porque eu iria?

− Bom, acho que você deve estar curiosa agora que está saindo da matrix como dizem os jovens, eu diria que você saiu do espelho para o mundo real

− Não estou convencida.

− O Licântropo deve estar a seguindo, não vai deixar alguém vivo para contar a história, e eu gostaria de saber o que você tem de especial que ele não a matou ainda.

− “Licantroipo” é um lobisomem grande?

− Licântropo é o que você chama de lobisomem, são mais inteligentes do que parecem e não ter matado você é muito estranho, noite sem lua não é?

− Sim.

− Ele escolheu se transformar para caçar Jacob, venha para cá menina.

− Bom, estou meio curiosa mesmo.

William passou seu endereço para Dorothy, desligou o telefone e caminhou pelo seu escritório, quando toca a campainha provocando-lhe uma reação rápida, saltou sobre a mesa de carvalho procurando sua Colt Peacemaker carregada com as balas feitas de um crucifixo de prata bento pelo papa Pio XII, mas a idade já não lhe permitia tamanho arroubo de agilidade deixando-o cair sobre a dita mesa espalhando os artefatos que há anos colheu em suas andanças pelos mundos, ao segundo toque da campainha, ainda aparando os objetos que rolavam sobre a escrivaninha, lembrou que poderia ser a pizza que encomendara para a janta − não teria tempo nem se sentia seguro o bastante para voltar para casa hoje, o que já acontecia a algum tempo, baseado em instintos apurados com o passar dos anos, longos anos de caçada e alguns de tutoria, Jacob era um de seus preferidos, entretanto, distraído − encaminhou-se à porta e, com a arma as costas abriu e recebeu sua pizza alho e óleo, pagou o rapaz e fechou a porta com cuidado para não interromper o pequeno monte de sal que contornava todo o pentagrama gravado no chão de seu escritório, “ele deve chegar amanhã”, pensou, colocando o primeiro pedaço na boca.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Lucas




O restaurante de beira de estrada, ao lado do posto de gasolina, exalava a álcool e confusão, mesas de sinuca, fumaça e uma jukebox do lado de dentro e motocicletas paradas à frente.

Lucas, sentado à uma mesa de canto, bebia sua cerveja e fumava seu cigarro, não sabia mais há quanto tempo estava lá, os últimos dias o haviam desgastado bastante. Não pode resistir ao chamado da natureza e levantou em direção ao banheiro quando o barman lhe acenou, acenou de volta sem entender o que ele queria até ser tarde demais. 


Lucas cambaleou após o primeiro soco, e reergueu-se apenas para ser atingido novamente pelo forte oponente, quando aprumou o corpo e esquivou-se do golpe seguinte preparando seu contra ataque, foi atingido por outro homem postado ao seu lado sendo deslocado à frente, mal tendo tempo de abaixar e rolar escapando do primeiro agressor. Postou-se de costas para a parede e finalmente pode ver seus contendores, três homens que nunca havia visto estavam agora lado a lado lhe encarando.

− Sabemos quem você é!

− É, sabemos!

− É!

− Quê? − Perguntou Lucas.

− Você é um deles!

− É!

− É!

− Deles quem? − Tentou argumentar Lucas, mas era tarde, o homem que lhe atacou primeiro partiu na sua direção de cabeça baixa jogando-o de encontro à parede.

− Então? Confessa!

− Não sei do que vocês estão falando! − Exclamou Lucas com dificuldades para respirar. Enquanto, um de cada lado, agarra firmemente seus braços. Enquanto o outro lhe arranca a camisa, expondo suas tatuagens.

− Sabemos quem você é, e sabemos o quanto vale o que você carrega em seu bolso. − disse o homem sacando uma faca e apontando diretamente ao olho de Lucas enquanto este retoma a respiração e entende que fora descoberto.

− Preferia que não tivéssemos chegado a isso. − Disse Lucas. No instante seguinte havia elevado o braço esquerdo, baixado o direito dando um passo atrás para em seguida girar seu braço direito por debaixo do braço de seu oponente fazendo-o chocar-se com a faca, rodou novamente e o ombro do outro homem estava deslocado, um chute a frente seguido de um golpe com a palma da mão debaixo para cima no nariz do terceiro homem e este estaria morto antes de cair ao chão. Voltou ao primeiro homem segurando-o pela garganta e perguntou:


­- Quem os mandou? – Ante o homem que desfalecia em seus braços pouco podia fazer, pegou sua jaqueta e saiu.





quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Mary





Os vidros estilhaçados alcançaram a calçada escura seis andares abaixo ao mesmo tempo em que seus pés tocaram os paralelepípedos antes de rolar sobre o ombro e correr para longe do alcance das balas que arrancam fagulhas e lascas das pedras ao seu redor, apesar de estar confuso com as drogas com as quais lhe interrogaram, ainda arriscou olhar para cima a tempo de ver seu o vulto de seu algoz, uma mulher de preto com duas desert eagle nas mãos.



No sexto andar a mulher responsabilizava os que lhe faziam guarda.

- Como ele escapou?

- Não sei, foi muito rápido, se soltou das cordas, atingiu o Preto e saltou pela janela.

- Quem o amarrou?

- Bom, foi você...

- Hmm, estava bem amarrado então. Isto só prova que estamos atrás da pessoa certa, vamos embora.

Ainda confuso, o homem tentava organizar os pensamentos, não sabia do que se tratava, porque estava sendo interrogado, como saltara do sexto andar e estava vivo, como escapara, essas dúvidas lhe seriam respondidas mais breve do que imaginava. A sede o consumia, as artérias lhe queimavam, mas pareciam em outra pessoa, não sentia dor, estava calmo, muito calmo. A noite lhe acolhia como um filho, e lhe indicava o caminho, barulho, luzes, pessoas, muitas pessoas. Invadiu uma loja de conveniências em um posto de gasolina, olhavam para ele como se fosse um louco, isso o incomodava. Foi até a geladeira e pegou uma lata de coca-cola, vermelha, nunca tinha reparado como era vermelha aquela lata. Um homem colocou a mão nas suas costas e foi empurrado para longe. “Me deixa em paz, estou com sede!” abre a lata e sorve sofregamente o liquido ali dentro, estragada, gelada demais, fere sua garganta. Procura outra e outra e nada lhe satisfaz. Dois homens agora lhe seguram, “como são lentos e fracos”. O brilho de seus olhos se esvai completamente, se aquele homem tivesse olhado para eles, certamente não teria se aproximado.


 

As sirenes não tardam, assim como a polícia, os relatos são vagos, imprecisos.

 “Ele quebrou tudo e jogos as pessoas para longe”

“Estava drogado ou algo assim, revirou as geladeiras”.

“Quebrou o braço dele.”

“Mordeu o pobre homem e arrancou um pedaço de seu pescoço, parecia o Maiki Taison!”

“A pele branca, olhos vidrados, olhos de um morto!”

- Que você acha? – disse o jovem policial para seu parceiro, policial das antigas

- Acho que tem louco para tudo, em dois minutos alguém vai falar “vampiro”.

- Nós assumimos daqui – falou a mulher de preto mostrando um distintivo daqueles que todos respeitam. – Isolem a área.