sábado, 18 de abril de 2009

William - origins - parte 1

20 de janeiro de 1982

O vento frio queimava meu rosto e esvoaçava meus cabelos, a sensação de liberdade dos anos 60 de Easy Rider em plenos 80, quando subo em minha Chopper consigo esquecer essa porra de New Wave com suas ombreiras cor de rosa e mullets e tudo com cheiro de maça verde, mas a liberdade durou pouco, o sol em vão tentava me aquecer, mas a tempestade me consumia. O tempo, como sempre, contra nós. Bobby e eu percorríamos a estrada há algum tempo já, seguíamos as criaturas há semanas sem sucesso, entretanto, finalmente entendêramos seu padrão. Por algum estranho motivo elas também odiavam New Wave e buscavam sempre por concertos de rock, haveria um em Des Moines, Iowa, hoje à noite. “Diary of a mad man”, Ozzy Osborne ressurgindo.
Por incrível que pareça não permitiam entrar em shows de rock com o equipamento necessário, Bobby e eu fomos de mãos limpas ao show, lotado como de costume. Entramos por portas diferentes do ginásio para tentar localizar as criaturas da noite. O som alto confundia meus sentidos e perturbava minha mente, eu sempre pude pressentir essas malditas criaturas, mas naquele momento não conseguira e isso me irritava. Em meio ao espetáculo, Ozzy aparentava confusão, trocava as letras confundia as palavras, provavelmente inebriado pelo álcool e excessos que o caracterizavam, uma pena considerando o grande vocalista do Black Sabath que já fora. Eis que observo, em sua forma quiróptera, a criatura voando em direção ao palco. A multidão delira enquanto, em vão, tento gritar para Ozzy alertando-o do perigo que corria. Nenhuma reação. Começo a gesticular com os braços sendo seguido por milhares de devotos de Ozzy, Já em desespero e como último recurso, fecho o punho esquerdo e, mantendo presos com o polegar os dedos médio e anular, liberei o indicador e o mínimo deixando-os em riste,
simulando tanto as orelhas como as presas da criatura que o atacava. 

Qual não foi minha surpresa ao ver que fui seguido por milhares de devotos de Ozzy - gesto que até os dias de hoje é repetido a exaustão em concertos do tipo, por certo tendo perdido seu sentido original - e maior foi minha surpresa quando ele, em meio da multidão, me localizou e olhou em meus olhos com agradecimento compartilhando um momento que me enternece até os dias de hoje, eis que ele movimentando-se rapidamente desvencilha-se do ataque da criatura que cai aos seus pés, e com as duas mãos pega a criatura e a leva à boca tomando-lhe a cabeça pondo fim a sua existência maldita. 

(continua)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Nadja - parte 5

previously on tears of blood...

A noite o encontrou em casa devaneando entre o sono e a vigília, sobressaltado, percebe dois copos de vinho servidos à mesa. E no sofá a sua frente, ela.

“Estava me procurando?” Disse, levando um dos copos à boca.

Lucas, assustado, tentou levantar e foi traído por suas pernas, como na primeira vez que a viu. Sentia-se tonto e fraco, não lembrava como havia chegado a seu apartamento. Lembrou de Paulo, de comprar o vinho que agora estava depositado nas taças a sua frente, o resto estava obscurecido pelo entorpecimento que tomava seu corpo. Então, pela primeira vez olhou para ela percebendo o tom alvo de sua pele contrastando com os cabelos e olhos negros. 


O sorriso sensual de Nadja o perturbava,

“Achei que não acordaria mais, já tomei duas taças do seu vinho.”

 “Meu vinho? Sim, comprei vinho.”

 “Você deve ter muitas perguntas, Lucas.”

“Perguntas, sim, creio que sim.” Lucas apresentava dificuldades para pensar, se achava inebriado pela presença da morena. Não entendia o seu sorriso, era mais que sensual, era quase irônico.

 “Por que você sorri assim?” Apenas um sorriso como resposta enquanto levava mais uma vez o copo aos lábios. Ele então toma seu copo nas mãos e sorve um longo gole de vinho. Sua mão treme um pouco, continua tonto, ela sorri.

“Algum problema?”

“Estou tonto.”

 “Estranho.” Falou Nadja, com um sorriso delicioso nos lábios. Lucas suava frio, passou a mão no rosto e na testa para secar o suor que lhe incomodava. Ela sorri novamente e toma um longo gole de seu copo, uma gota sobra em seus lábios que ela captura com a língua deixando aparecer o canino levemente maior que o normal. 


Naquele instante seus olhos percorrem rapidamente dos lábios ao dente ao copo e a gota em sua língua, muito densa, compreendeu e colocou a mão no pescoço. Ele trouxe a mão úmida aos olhos, sangue.

“Muito bom mesmo o seu vinho.”

“Eu vou morrer? Você vai me matar?”

“Vai começar o drama? Você sabia do que se tratava e me chamou aqui.”

“Não quero morrer”

“Mas quer vir comigo, certo? Quer uma nova vida sem deixar a anterior de lado, vocês são interessantes”.

“Me transforma em um de vocês?”

“Porque eu faria isso? Seu vinho não é tão bom assim.”

Lucas tenta levantar, mas a tontura o leva a perder os sentidos e cair sobre a mesa a sua frente. Nadja sorri e se debruça sobre o pescoço de Lucas repetindo o que fizera antes.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Nadja parte 4

O amanhecer demorou a chegar, as palavras eram poucas, a amizade de anos era o que lhes bastava agora. “Café?” “Sim, por favor.” “Açúcar?” “Claro que não.” “Tu sabe como vampiro faz chá?” E Lucas caiu na gargalhada, Paulo tentava aquela piada há anos sem sucesso e agora lhe arrancara risadas convulsivas. O contraste entre a caneca com seis colheres de açúcar e o puro de Lucas refletia também nos seus semblantes, Paulo, sempre o lacônico, agora fazia graça para aliviar a situação enquanto Lucas trazia tempestades em seus olhos, destoando do homem que brincava com a fratura em suas costelas ano passado. “Não sei o que pensar, não quero te meter em problemas.” “Os ruídos de ontem a noite, acho que não te diziam respeito.” “Como assim?” “Todos temos fantasmas.” Foi a resposta de Paulo assumindo a expressão taciturna que o caracterizava, trazendo um pouco de alívio ao amigo que já estava ficando consternado com as atitudes de Paulo. “De qualquer forma, preciso ir. Obrigado pela noite tranqüila.” Falou Lucas com um sorriso.

Seus sentidos estavam à flor da pele, sentia o perfume de tudo a sua volta, o pão da esquina, gasolina, flores que invariavelmente tornavam seus pensamentos a ela, o aperto no estomago e o turbilhão de vozes desconexas rodava em sua cabeça, seguiam consigo. “Preciso falar com ela, hoje.” Pensava, enquanto deixava de lado o prato de comida que insistia em tentar, passou no supermercado para comprar vinho, imaginou ser estranhamente adequado à situação.

A noite o encontrou em casa devaneando entre o sono e a vigília, sobressaltado, percebe dois copos de vinho servidos à mesa. E no sofá a sua frente, ela.

“Estava me procurando?” Disse, levando um dos copos à boca.