O amanhecer demorou a chegar, as palavras eram poucas, a amizade de anos era o que lhes bastava agora. “Café?” “Sim, por favor.” “Açúcar?” “Claro que não.” “Tu sabe como vampiro faz chá?” E Lucas caiu na gargalhada, Paulo tentava aquela piada há anos sem sucesso e agora lhe arrancara risadas convulsivas. O contraste entre a caneca com seis colheres de açúcar e o puro de Lucas refletia também nos seus semblantes, Paulo, sempre o lacônico, agora fazia graça para aliviar a situação enquanto Lucas trazia tempestades em seus olhos, destoando do homem que brincava com a fratura em suas costelas ano passado. “Não sei o que pensar, não quero te meter em problemas.” “Os ruídos de ontem a noite, acho que não te diziam respeito.” “Como assim?” “Todos temos fantasmas.” Foi a resposta de Paulo assumindo a expressão taciturna que o caracterizava, trazendo um pouco de alívio ao amigo que já estava ficando consternado com as atitudes de Paulo. “De qualquer forma, preciso ir. Obrigado pela noite tranqüila.” Falou Lucas com um sorriso.
Seus sentidos estavam à flor da pele, sentia o perfume de tudo a sua volta, o pão da esquina, gasolina, flores que invariavelmente tornavam seus pensamentos a ela, o aperto no estomago e o turbilhão de vozes desconexas rodava em sua cabeça, seguiam consigo. “Preciso falar com ela, hoje.” Pensava, enquanto deixava de lado o prato de comida que insistia em tentar, passou no supermercado para comprar vinho, imaginou ser estranhamente adequado à situação.
A noite o encontrou em casa devaneando entre o sono e a vigília, sobressaltado, percebe dois copos de vinho servidos à mesa. E no sofá a sua frente, ela.
“Estava me procurando?” Disse, levando um dos copos à boca.
Uau! Curto, sutil e direto no fígado!
ResponderExcluirÉ... quando a gente deixa de procurar é que acha, não é isso? :O)