William acorda sobressaltado puxando de baixo do travesseiro a famosa Colt peacemaker que lhe acompanha a todos os lugares, inclusive ao banheiro após o pequeno incidente que lhe acometera anos antes provocando um enfrentamento de mãos limpas e completamente nu com uma criatura das trevas, não é uma lembrança que lhe agrade e nem uma história para contar, não se orgulha de como teve que resolver aquela situação. Em segundos entendeu que seu telefone celular acusava por vibração a chegada de uma missiva eletrônica, o que provocou sua curiosidade, poucos possuíam aquele número e realmente muito poucos teriam coragem de utilizá-lo. Antes de pegar o aparelho, correu os olhos pelo quarto procurando alguma falha nas barreiras de sal que bloqueavam as aberturas de seu aposento, a pequena janela voltada para o leste – quanto antes o sol alcançá-lo melhor – e a porta ao sul – sempre dormia com a cabeça para o norte e jamais de costas para a porta, o que dificultava um pouco seu pernoite em outros aposentos, por algum motivo incompreensível para ele, os quartos não são todos construídos desta maneira – constatando que as linhas de sal continuavam intactas, “mais uma noite, mais uma dádiva” disse ele seguindo seu ritual matinal e toma o telefone nas mãos. Passa rapidamente os olhos pela mensagem e motivado pela urgência do fato apresentado em poucos minutos já está com a mochila com os instrumentos necessários para a tarefa que lhe foi designada, montado em sua bicicleta e pedalando furiosamente para o endereço que recebera na mensagem.
“Ela novamente, mais uma vítima da maldita Nadja, linda e maldita, tem prazer em provocar as transmutações e me deixar saber, sou obrigado a por fim as suas existências miseráveis e malditas, mas um dia encontrarei Nadja novamente e será o fim para um de nós”.
Chegou rapidamente ao apartamento, chutou a porta e rolou para dentro apoiando-se ao solo com o joelho esquerdo e o pé direito, segurava a Colt com a mão destra calçada sobre o pulso da sinistra que empunhava sua adaga, de maneira invertida. Sua preferência, apesar da ambidestria, era usar a adaga na canhota, onde provocava mais estragos, acreditava por vezes que tinha menos escrúpulos com aquela mão.
Perscrutou rapidamente o ambiente avaliando a situação, os recém transformados não sabiam de suas capacidades, mas ainda assim eram bastante destrutivos, todo cuidado era pouco, entretanto os gemidos que ouvia não condiziam com um recém transformado, “cheguei cedo demais?” e dirigiu-se a proveniência dos sons encontrando um homem se contorcendo na banheira, sem desviar os olhos investigou rapidamente o banheiro até encontrar as palavras no espelho e em sequência o bilhete que ela deixara.
Atônito procurou recapitular a situação, “ela o mordeu e o largou vivo na banheira, o gelo deve retardar o processo, não passou seu sangue para ele, está no vidro, lhe deu uma opção, mas como ele ainda está vivo? Tem sangue em seus lábios, provavelmente o suficiente para mantê-lo até eu chegar, mas e agora? Devo matá-lo? Cortar sua cabeça?” foi tirado de seu devaneio pelas palavras do homem. “Me ajude” e começou a convulsionar na banheira. William pegou seu telefone e ligou para o número da única pessoa disponível com conhecimento suficiente para lhe ajudar, Ozzy estava ocupado demais com Bill (Gates).
“Peter Vincent, Vampire Slayer, ao seu dispor” disse a voz ao telefone.
“Peter, William”
“Ah, diga.”
“Encontrei uma vítima sugada, viva e não transmutada, aparentemente com uma pequena dose de sangue em seus lábios”.
“Banheira de gelo?”
“Sim”
“Por que eles fazem isto? Por que não definem a situação? Não podes imaginar a dor que ele deve estar sentindo, ou melhor, claro que pode. Ele está acordado? Bom, estou ouvindo os gritos, você tem epinefrina, claro, misture com a solução de alho e a água benta.”
“Água benta? Mas não tem utilidade!”
“Ah, claro, você já sabe disto, dilua com água então, e reze. Bom, não precisa rezar, só espere umas duas horas, se ele sobreviver, leve-o para casa, precisará ensiná-lo algumas coisas, mas isto é um passo posterior. Aplique a injeção que não agüento mais estes gritos!”
“Obrigado Peter”.
“Peter Vincent,Vampire Sayer, desligando”.
William preparou rapidamente a injeção e em instantes o rapaz parou de se debater, cansado, antes de desfalecer, ainda disse algumas palavras que William entendeu como o próprio nome e de seu algoz.
“Nadja, Lucas” e caiu em sono profundo.